Conitec avalia medicamentos para tratamento de pacientes com doença ocular que pode levar à cegueira
Consulta pública sobre o tema recebe contribuições até 9 de março
Estão em avaliação na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) os medicamentos aflibercepte e ranibizumabe para tratamento da degeneração macular relacionada à idade (neovascular) em pacientes acima de 60 anos. O tema foi encaminhado para consulta pública com parecer inicial favorável à incorporação. Para os membros do Plenário, a eficácia e a segurança dos dois medicamentos são semelhantes e de boa qualidade. O prazo para o envio de contribuições se encerra no dia 9 de março.
Participe da consulta pública. Clique aqui para o envio de relatos de experiência/opinião ou contribuições técnico-científicas sobre o tema.
A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma doença que acomete os olhos, mais especificamente a área central da retina (mácula), podendo levar à perda da visão. Ambos os medicamentos analisados atuam por meio de injeções intraoculares, bloqueando a atividade do fator de crescimento endotelial vascular que, em excesso, provoca a formação anormal de novos vasos sanguíneos no olho e o desenvolvimento de edema na retina. A doença atinge 15 a 30% dos indivíduos com 55 a 80 anos e é responsável por 8,7% de toda a cegueira, o que corresponde a aproximadamente 3 milhões de pessoas. Estima-se que, em 2040, existirão 288 milhões de casos da doença no mundo.
Leia aqui o relatório técnico da Conitec.
A doença é categorizada em estágios (precoce, intermediário ou tardio), com base na gravidade dos sintomas, como o número e o tamanho de drusas (formação de “cristais” no fundo do olho) e as alterações na pigmentação e na vascularização dos olhos. As principais causas são aumento da idade, etnia caucasiana, aterosclerose (acúmulo de gordura e outras substâncias nas artérias) e tabagismo.
DMRI, mais detalhes
Existem dois tipos: a seca e a neovascular (úmida). A seca corresponde a aproximadamente 85 a 90% dos casos e é caracterizada pelo depósito de substâncias no fundo do olho, podendo evoluir para um estágio final denominado atrofia geográfica. A DMRI neovascular ou úmida atinge de 10 a 15% dos acometidos pela doença e é responsável por 90% dos casos de cegueira, devido aos danos causados na retina pelo líquido e pelas substâncias que conseguem atravessar com mais facilidade a parede dos novos vasos formados em razão dessa condição de saúde.
O diagnóstico é realizado por meio de exame clínico oftalmológico completo, entre outros exames, a fim de identificar a presença de alterações características da doença. De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da forma neovascular da DMRI, o único tratamento atualmente disponível consiste no uso da fotocoagulação a laser. Essa terapia não é indicada para todas as situações, porém, seu uso é preferível à ausência de tratamento, pois evita a perda visual acentuada provocada pela história natural da doença.
Perspectiva do Paciente
A representante da Retina Brasil, Maria Júlia Araújo, foi a indicada pelo grupo de participantes inscritos na chamada pública sobre o tema para que falasse aos integrantes do Plenário. A organização não governamental foi criada há 19 anos para apoiar e informar pessoas com doenças da retina e seus familiares. Ao iniciar a apresentação, Júlia contou que foi ouvir alguns pacientes que convivem com a DMRI. “São muitos relatos. A doença, se não tratada, causa uma perda da visão irreversível, com impacto social, por exemplo, de pessoas que tiveram de abandonar suas atividades de trabalho, com aposentadoria precoce e com valores recebidos que mal cobriam a parcela do plano de saúde, considerando que a DMRI ocorre com pessoas já mais de idade, quando os planos têm parcelas elevadas.”
Alguns dos depoimentos foram lidos por ela. “Ter essa doença é muito triste e a perda da visão é chocante. Para usar uma palavra mais correta, é desesperador”, dizia um dos relatos. Outra paciente mencionou o medo de não ver o primeiro neto nascer. “Quando ela teve o diagnóstico a filha já estava grávida. Ela ficou preocupada. Mas deu tudo certo e hoje ela se sente uma pessoa muito privilegiada porque, por meio do plano de saúde, faz tratamento com esses medicamentos e leva uma vida normal”, concluiu.
Júlia declarou que a organização recebe recursos da indústria farmacêutica mediante a elaboração de projetos de caráter informativo.